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Sobre a polêmica em relação a construção de uma Igreja na área da Capela de São Sebastião

Inauguração da Capela em 1936
A Capela de São Sebastião foi construída na gestão do Padre José Borges sendo o início da obra no ano de 1936 com a inauguração no ano seguinte tendo a presença de Dom João da Matta bispo da Diocese de Cajazeiras. Ao que consta, a obra teve como encarregado o pedreiro Severino Cunha com a ajuda de pessoas da comunidade e devotos de São Sebastião. Os postes de iluminação foram doados assim como muitas outras coisas. A imagem de S. Sebastião foi doada pelo Major Euclides Brito da Nóbrega (custou seiscentos mil reais). A de Santa Joana Darc, por Naninha Medeiros, a de Santa Terezinha por Dondonzinha Nóbrega, e a de N. Senhora do Montserrat, por João Medeiros.

Bases para nova Igreja
Em resumo, podemos dizer que a capela é um imóvel que merece ser preservado tendo em vista o valor que tem para memória e a história do município bem como o valor que tem para integração daquela comunidade. É em torno dessa obra a mais nova polêmica da cidade.

De um lado o Conselho da Comunidade de São Sebastião (órgão colegiado da Paróquia) que decidiu que deveria ser mantida a proposta original de construir uma nova Igreja tornando o atual prédio da capela a torre central. Aqueles que moram no bairro, frequentam as missas mensais na capela e organizam a Festa de São Sebastião consideraram mais importante construir uma Igreja no local da capela não tendo considerado o efeito que isso causaria sobre a preservação da memória local. Essa decisão, a propósito, contrariou  a proposta do Padre Elias que queria recuperar a capela e construir a nova Igreja em outro terreno no mesmo bairro.

De outro lado está uma parcela da população de Santa Luzia que não mora no bairro, não organiza a festa e não frequenta regularmente a capela em suas atividades religiosas. Esta parcela considera que se trata de um patrimônio histórico de Santa Luzia, portanto, de cada cidadão ainda que não more no bairro devendo ser preservado. 

Neste confronto de visões, duas questões precisam ser respondidas: o benefício gerado pela construção de uma Igreja no local decidido pela comunidade que a utilizará compensará a descaracterização da proposta original da capela construída há 77 anos? Se a comunidade parar a obra e manter a estrutura original vai ser feita a recuperação e urbanização da capela de São Sebastião? Deixar um monumento histórico cair por falta de manutenção ou mesmo abandoná-lo sem atribuir-lhe o devido valor também é algo questionável tanto quanto mudar a sua estrutura e modernizá-lo.

O projeto de Lei para o tombamento, de autoria do ex-vereador Joselito Eulâmpio, não foi executado e não há nada que trave a obra salvo se o Ministério Público se pronunciar, mas, para isto, precisa ser provocado. A propósito, salvo Joselito e Terezinha Alves, os vereadores, ao que me consta, não se preocuparam com a regulamentação deste tema e, por causa desta omissão, muitos prédios históricos deixaram de existir na sua forma original por causa de reformas feitas por seus donos. Omissão que também foi feita pela sociedade civil, registre-se. Por que só a capela é alvo de polêmica?

Recentemente, a Secretária de Cultura de Santa Luzia, Terezinha Alves Nóbrega, afirmou que está começando a planejar políticas públicas voltadas ao tombamento e preservação do patrimônio histórico, artístico e cultural de Santa Luzia. Mas, infelizmente, a pasta não dispõe de orçamento que permita realizar ações rapidamente. A Secretaria está tentando captar recursos através de editais cujos resultados ainda não saíram.

Antes de aderir a um ou outro grupo nesta polêmica é bom pensar se é só a intervenção na capela de São Sebastião que precisa ser discutida. O Poder Legislativo tem muito a contribuir nessa causa e pode colaborar para que a Secretária de Cultura supere as dificuldades que tem passado para executar o seu trabalho. A sociedade civil também tem responsabilidade nesta causa devendo se integrar ao Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental  que imagino que já esteja criado.

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