Construção do Açude de Santa Luzia PB |
Mário Ferreira, figura muito importante que guarda a memória dos grandes momentos de Santa Luzia, compartilhou um texto que ele encontrou com o título de Monólogo do Açude Novo de autor não identificado, mas que foi escrito aos 50 anos de construção do manancial. Trata-se de um texto antigo, mas importante e que agora faremos conhecer :
"Sou o velho Açude Novo. Filho do DNOCS (Departamento Nacional de Obras Contras as Secas), que é filho de José Américo de Almeida. Filho de planejamento; porque filho mesmo eu sou do sertanejo e da natureza que, num jogo de amor estranho, me deram origem.
Aqui, a natureza arrependida de castigar o sertanejo, confabulou com ele num idílio comovente que chorava. E nas lágrimas, vertidas na forma de suor humano, surgiram as primeiras células do conteúdo líquido que é o meu ser. E essas lágrimas tépidas, caídas à custa de trabalho pesado, tocaram o céu que se enterneceu e lavou as encostas da Borborema. E as correntes cristalinas desceram das entranhas da serra, turvando-se em caminhos vários que culminaram com o Quipauá. E as águas, que daqui rolavam para outros rios, encontraram barreira - o meu peito aberto para um abraço duradouro.
"Sou o velho Açude Novo. Filho do DNOCS (Departamento Nacional de Obras Contras as Secas), que é filho de José Américo de Almeida. Filho de planejamento; porque filho mesmo eu sou do sertanejo e da natureza que, num jogo de amor estranho, me deram origem.
Aqui, a natureza arrependida de castigar o sertanejo, confabulou com ele num idílio comovente que chorava. E nas lágrimas, vertidas na forma de suor humano, surgiram as primeiras células do conteúdo líquido que é o meu ser. E essas lágrimas tépidas, caídas à custa de trabalho pesado, tocaram o céu que se enterneceu e lavou as encostas da Borborema. E as correntes cristalinas desceram das entranhas da serra, turvando-se em caminhos vários que culminaram com o Quipauá. E as águas, que daqui rolavam para outros rios, encontraram barreira - o meu peito aberto para um abraço duradouro.
Cresci. Avolumei. Sangrei. Sou a redenção.
Carrego comigo a responsabilidade de servir os filhos de meu pai. Há 50 anos assim vivo. Os meus irmãos não conhecem o drama dos que são servidos pelo carro pipa.
Não sei por que estão me desprezando...Querem, por acaso, entregar-me a um abrigo de velhos? Querem dar-me a sorte do Açude Padre Ibiapina? Terno e velho amigo! Sereno, passivo, reduzido a um receptáculo de dejetos. Como te recompensaram tantos benefícios prestados!
Barreiras de areia, que a enchente arrasta na sua fúria impetuosa, aterram-me o bojo, diminuem minha capacidade. Camadas de excrementos turvam-me o brilho do olhar e a lua já não reflete em minha face para encanto dos namorados. Oh! Crueldade!
O murmurar das minhas ondas de encontro ao paredão, num contraste sonoro lânguido e belicoso, tem o lamento da solidão e o grito lancinante da revolta.
Hoje, no meu aniversário, faço-lhes o meu apelo, ó irmãos! Não cantem 'parabéns a você'. Não louvem minhas glórias passadas. Ajudem-me! Escavem-me o bojo, consertem-me o paredão, para que esse velho possa dar o orgulho de, na paisagem da 'Ilha do Sertão', realçar a beleza do Açude Novo."
Construção do Açude |
Construção do Açude |
Açudes Padre Ibiapina e José Américo cheios |
Texto e fotos do acervo de seu Mário Ferreira de Medeiros
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