José Aderivaldo
Não quero, ainda, engrossar o caldo daqueles que desacreditaram da luta pelas novas perspectivas políticas na Paraíba e Santa Luzia. Ainda não. Sou dirigente de um partido político que tomará para si a responsabilidade de representar a mudança, mas o cargo que ocupo não me livra das responsabilidades que o título de Sociólogo, em breve doutor, me imputam. Os sociólogos têm direito de participar do jogo político, mas não o podem fazer sem a crítica ou a auto-crítica.
Olho tristemente o cenário político de “Santa Luzia, a terra querida e de todos nós” e me pergunto se nós, oposição, e eles, situação, não estamos simplesmente pondo novos rótulos para velhas garrafas, ou seja, há uma estrutura social e política que está se reproduzindo e se revigorando a cada dia fazendo com que nada exista efetivamente de novo, nenhuma perspectiva de melhoria, de inovação. A universidade não chegou, o CEFET ou IF não chegou, não há empregos, há o reino do crack, maconha e ox; quero ir para o Rio Grande do Norte, mas...a estrada acabou.
Santa Luzia continua sendo aquilo que eu chamo de cidade estacionária e isso não é culpa somente do partido da situação, não é só a flanela amarela, como se diz costumeiramente. O modelo de gestão é o mesmo de sempre: calçando ruas, pintando escolas, desloca o lixão de um lugar para o outro, aplica as verbas que já vêm com destinação definida, pagamento dos salários e das obrigações sociais em dia. Sim tudo isso ocorre em Santa Luzia, para quê negar? Há os que dizem que tem cidade pior que a nossa, tem e muitas, porém, não podemos nos nivelar por baixo. Faltam projetos estruturantes, ou seja, realizar obras, mas que elas sejam capazes de dotar a cidade de condições para atrair investimentos, de promover a diversificação das fontes de renda, de gerar empregos. É claro que o bem estar que uma rua calçada gera é importantíssimo, mas é preciso colocar a catraca para girar e fazer a cidade desenvolver-se.
À oposição falta organização. Falta ainda a união em torno de uma voz que seja capaz de mostrar que a situação que ai está pode ser muito diferente, pode-se encontrar alternativas para encaminhar a resolução dos problemas santaluzienses. Sobra em algumas pessoas ou microgrupos o desejo de tomar o poder pelo poder. Estes, se ganham a prefeitura, dificilmente conseguem fazer algo diferente porque a prática é a mesma daqueles...
Antes de o caro leitor dizer que estou em cima do muro, digo as razões do meu pensamento difícil de dizer, pior ainda de ser aceito. É que nós, os sociólogos, diz Pierre Bourdieu, somos treinados, por um lado, para exercer o papel de desmancha prazeres e, por outro lado, de cúmplices da utopia. Se estou "dando um puxão na minha própria orelha e publicamente" é porque acredito que o nosso compromisso não deve ser só de eleição, de convenção, de oposição que trabalha nos seis meses da campanha e de situação que começa a trabalhar às vésperas da campanha e depois se tem, de um lado, um gritando por mudança e outro dizendo que trabalha, trabalha, trabalha. Não é este o nosso compromisso. Isto são novos rótulos para velhas garrafas! Nós podemos ir mais além.
Pronto, agora que cumpri meu papel de desmancha prazeres, devo ser cúmplice da utopia. Especificamente, cúmplice da utopia de que na próxima eleição o comportamento dos eleitores de Santa Luzia vai mudar e a força da juventude fará um abalo nas estruturas arcaicas de pensamento que se arrastam pelos anos impedindo que um projeto alternativo seja implantado. Mas quem sabe, possa surgir, como resultado das tensões e reconfigurações do quadro político de 2012 um novo alento, uma nova possibilidade de referência política que imprima um novo ritmo no processo político. Se essa geração não quer sonhar e não quer ousar, pois que venha a que há de vir com novos rótulos e novas garrafas.
Meu estimado amigo Zé...
ResponderExcluirSempre que posso acompanho as notícias Santa-luzienses pelas excelentes postagens do seu blog e confesso que por vezes me flagrei refletindo quanto ao seu posicionamento em relação a tais postagens, principalmente àquelas que abordam diretamente a política da nossa terra. Sei que ocupas um cargo no partido dos trabalhadores ai de Santa Luzia e, como bem dissestes tal fato não lhe isentas das responsabilidades nem muito menos da visão crítica com a qual a sociologia enxerga este mundo capitalista no qual, todos nós, estamos inseridos. Quero aqui prestar minha sincera aprovação quanto a esta sua autocrítica e quanto à crítica que fazes ao cenário político Santa-luziense.
Acredito que sim, que Santa Luzia, ao invés de trocar estas velhas garrafas, está apenas colocando novos rótulos nas velhas e manjadas garrafas, às quais todos nós já conhecemos tão bem. Digo isto simplesmente porque tal fato muito me preocupa, inclusive ao ler uma postagem anterior, no seu blog, mostrando-me que o nosso amigo Josué também resolveu acompanhar-me nesta dolorosa empreitada, deixando assim, nossa Santa Luzia em busca de novos e oportunos horizontes. Eu agradeço muito por tudo que, por aqui, conquistei. No entanto, o meu infortúnio e a minha epopeia de retorno tiveram início no mesmo dia em que saí de Santa Luzia e é justamente disto que eu, sinceramente, gostaria de privar nossas futuras gerações.
Preocupa-me muito o desejo de poder pelo poder como você coloca no seu texto e como nós sabemos acontece ai em Santa Luzia e, como nós também sabemos que é reproduzido por gerações e gerações de políticos que se revezam nos cargos da situação. De encontro a este lamentável fato existe uma frase que nos diz o seguinte: “Cada nação tem o governante que merece ter”. Desta forma, percebemos que não será fácil revertermos o cenário Santa-luziense.
Contudo, meu estimado amigo Zé, compartilho da sua utopia de que as coisas, num futuro, espero, próximo, irão mudar. E, é para isto que me preparo, para que no momento propício eu possa retornar e dar a minha contribuição colocando o meu tijolo na construção de uma nova Santa Luzia.
Um fraterno abraço e até breve.
Paulo César de O. A. Dantas