Numa cantoria, Zé Limeira e José Alves Sobrinho travavam a peleja com apenas três intervalos de 20 minutos a noite. As horas pulavam. Os violeiros engalfinham-se no galope à beiramar, o mais difícil gênero da cantoria nordestina: estrofe de dez versos com onze sílabas, obrigatoriamente tônicas as segunda, quinta, oitava e décima primeira. Nesse estilo, o poeta do absurdo acaba fazendo os seguintes versos:
"Eu canto galope no céu e na terra
Prumode os vivente pudê me ispiá...
Tacaca, mofumbo, raposa e preá,
No campo, na baixa, na grata e na serra,
Jumento, cavalo, garrote que berra,
Garrote, cavalo, jumento muá,
Vaqueiro, cangalha, chicote de pá,
Chicote, cangalha, vaqueiro, sacola,
Limeira é quem berra no som da viola
Cantando galope na beira do má."
"Limeira só canta toada bonita
Pra moça da roça, pra moça da rua...
Braúna, chocalho de noite de lua,
Cardeiro enfeitado de laço de fita.
Carroça vestindo camisa de chita,
Novena na casa do Sítio Tauá,
Porteira, cancela, vareda, jucá,
Mutuca, facheiro, vaiado, pagode,
A cabra rodando na pimba do bode,
Cantando galope na beira do má. "
"Me chamo Limeira, Liminha, Limão,
Muntado a cavalo no mato fechado,
Ciência Regente conheço um bucado;
Carcaça de burro de espora e gibão.
Facheiro, jurema, colada, trovão,
Novilha parida do lado de lá,
A cabra berrando do lado de cá
Com medo do bode da pimba de ponta,
Limeira é quem fala, Limeira é quem conta.
Cantando galope na beira do má."
"Não sei onde fica esse tá de oceano,
Nem sei que pagode vem sê esse má...
Eu sei onde fica Teixeira e Tauá,
Que tem meus moleques vestido de pano...
A minha patroa é quem traça meus prano,
Cem culha de milho inda quero prantá,
Farinha, lugume, feijão e jabá,
Com mói de pimenta daquela bem braba,
Valei-me São Pedro, Limeira se acaba,
Cantando galope na beira do má."
"Mourão de porteira, cangote de vaca,
Cangote de vaca, mourão de porteira,
A nega vexada chamando a parteira
E o nego pulando na ponta da faca
Preá, punaré, papa-vento, tacaca,
Cachorro querendo lambê o preá,
O pobre correndo pra aqui, pra cuiá,
O mato fechando, se abrindo de banda.
No tá do repente Limeira é quem manda
Cantando galope na beira do má."
"Eu sou Zé Limeira, caboco do mato,
Capando carneiro no cerco do bode,
Não gosto de feme que vai no pagode,
O gato fareja no rastro do rato,
Carcaça de besta, suvaco de pato,
Jumento, raposa, cancão e preá,
Sertão, Pernambuco, Sergipe e Pará,
Pará, Pernambuco, Sergipe e Sertão,
Dom Pedro Segundo de sela e gibão,
Cantando galope na beira do má."
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