Me divirto muito todos dos dias acompanhando a novela Cordel Encantado. Apesar de, em seu conteúdo, existirem alguns erros históricos, algumas misturas que só podem existir porque são ficção, há muitas mensagens interessantes sendo passadas a cada capítulo. A novela está muito boa também do ponto de vista técnico, especificamente das cores, luzes e figurinhos bem montados. Um mérito para sua diretora de arte a Amora Mautner.
Alí, há um cruzamento de trajetórias que não resume o enredo da novela à Jesuíno e sua amada Açucena. Há figuras muito interessantes como Timóteo, o coronelzinho, Farid (o sultão de três mulheres) o delegado Batoré, Miguezin - o profeta... tantos outros personagens que nos prendem à novela. Um dos que mais me prende, a propósito, é o prefeito Patácio Peixoto, marido de dona Ternurinha. É o típico pau-mandado: obedece às ordens da mulher e atende à qualquer demanda do coronel Cabral. Isto porque o coronel custeia muitas coisas do prefeito, a exemplo da vinda da família do real para o Brasil. Patácio tem mania de grandeza e adora um discurso, não perde uma oportunidade de falar “para o povo na qualidade de prefeito de Brogodó”. Uma das suas cenas que gostei mais foi aquela em que, sentado em sua poltrona, o prefeito lê o livro de Maquiavel, O Príncipe, ele adormece e sonha com seus grandes pronunciamentos, com a projeção de sua imagem...
Marcos Caruso tem interpretado muito bem o papel de uma figura política que trabalha cotidianamente para que "sua plataforma política" tenha sempre força para se manter... Por isso dona Ternuriiiiinha, sua fiel e viva esposa, não perde a chance de ajudar o marido a encontrar estratégias de sempre aparecer bem na fita. Na minha opinião, Patácio não é simplesmente o político do passado, mas também, em alguns casos, ele se parece muito com alguns políticos que subestimam a inteligência do povo na medida em que tenta envolvê-lo em suas falácias tipo "não faço porque não tenho condições", "a ajuda não veio", "a prefeitura não tem recursos financeiros para tal" frases típicas que o Patácio usa...
Eu, que já fui candidato a vereador, agora fico me perguntando: alguma vez fiz papel de Patácio? Vi muitos colegas fazerem esse papel ao passo em que tudo que faziam não tinha um sentido profundo, não tinha um compromisso com a coletividade, mas com "a minha plataforma política"... Escuto muito das pessoas dizerem que fulano se elegeu e depois não dá nem as horas a ninguém... sicrano morava fora agora que tá perto da eleição voltou pra Santa Luzia e não perde mais um evento. Parafraseando Jessier Quirino esse é o tipo do candidato que assiste meia missa e sai comungado.
As pessoas, é isso que quero dizer usando a figura do Patácio, reconhecem quando alguém está agindo só para manter uma imagem de homem público de valor, de moral e comprometido. Não há marqueteiro que consiga disfaarçar tamanho descaramento de alguns colegas. O bom político, em primeiro lugar, deve estar movido por um profundo senso de coletividade, deve saber separar a sala de sua casa da sala onde trabalha. E o que eu acho mais crucial: não é só o povo que deve ser fiel ao político, mas o contrário, os políticos (nós) devemos ser fiéis aos cidadãos das simples coisas (tratá-las bem, como gente e não gado) às mais complexas como realizar ações para resolver os problemas que afetam à coletividade. Acho que devemos cobrar fidelidade do político através do cumprimento daquilo a que ele se propôs. Há colegas(espero que eu não tenha sido assim) que sequer cumprimentam com bom dia os seus conterrâneos. Um cumprimento, um aperto de mão é uma questão de civilidade, de polidez, é um ato de reconhecimento de que o outro existe.
Quando não se faz essas coisas e se deixa para fazê-las na eleição corre-se o risco de se tornar um Patácio. Os problemas cotidianos merecem atitudes, exigem um posicionamento efetivo do político e não uma saída rasteira do tipo "vou encamihar a demanda ao governador", como disse o Patácio em relação ao reforço policial para combater os cangaceiros...Alguém que não se interessa pelo povo e seus problemas ao longo do ano, como pode afirmar estar ao lado dele no palanque? Alguém que é eleito e não presta conta de seu mandato, como pode ser transparente? Como pode comprovar o que fez?
Patácio é tipo engrassado de se ver, mas na ficção. Na realidade este tipo de político é o que mata milhares e milhares de pessoas: de fome, na fila dos hospitais, na violência urbana, no trânsito desorganizado, nas estradas abandonadas. Isso não é nada engraçado.
Quantos Patácios temos em Santa Luzia? Até quando eles sobreviverão?
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